#portodosnós

Not bad, just new

Jaqueline Adams


style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">O título que escolhi para esta reflexão representa o pensamento que me acompanha agora, depois de ter passado estes dois últimos meses buscando obstinadamente aprender a nova realidade, o novo normal, principalmente nas atividades de comércio, indústria e serviços, ambientes onde atuo profissionalmente. Uma expressão que colou na minha mente, ao ouvi-la perdida no meio de um dos incontáveis podcasts e lives que tenho escutado. "Not bad, just new". Não é ruim, apenas novo.

Existem períodos da história que exigem que a humanidade repense tudo o que está fazendo. Estamos vivendo um deles. Um grande desequilíbrio na área da saúde, fundamental ao ser humano, da noite para o dia, colocou em xeque todas as nossas práticas. Todas. Hábitos de higiene, interações familiares, transporte, sistemas de trabalho e operações comerciais de serviços. E agora?

Agora é ativar as antenas. Aquela sensibilidade que achávamos desnecessária para efetuar uma venda está sendo convocada para mostrar a que serve.

Perdemos certezas e ganhamos desafios. A criatividade neste momento é necessária, não mais opcional. Mais do mesmo não serve. Na verdade, nunca serviu. O marketing, e dentro dele a publicidade, sempre trabalharam com dados. Agora, estamos construindo dados ao mesmo tempo que buscamos a sobrevivência.

Entramos a mil numa de era de experimentação. Precisamos urgentemente ressignificar nossas práticas, nosso consumo, nossa vida. A expressão "expansão da consciência", até então associada a uma postura de vida alternativa, é palavra de ordem.

Coisas que perderam o sentido têm que ser deixadas para trás. Acredito que cada um que tenha uma atividade comercial ou de serviços já tenha identificado isso, um ponto em seu processo que "deu".

Muitos hábitos de consumo se apresentam agora incertos. E isso nada tem a ver com classe social. Transformação é possibilidade, é esperança. Inflexibilidade é sofrimento.

Negócios de todos os portes estão ameaçados. Até certo ponto invisíveis, muitos pequenos estabelecimentos agora mostram o alto impacto que têm na cadeia de distribuição e venda de grandes marcas mundiais. E de sua saúde. Um pequeno bar fechar afeta o dono, seus funcionários e suas famílias. Mas muitos pequenos bares fecharem afeta muita gente. Afeta grandes organizações. Estamos vendo grandes grupos se organizarem em defesa e proteção dos seus pequenos revendedores e distribuidores. Isso é cuidar do mercado. A pequena empresa pode fazer isso? Pode. Cuidar do seu mercado, agora, mais do que nunca, é aprender a ler o que os olhos de um cliente de máscara nos dizem. E vão dizer muito. Cada cliente que entra em um estabelecimento merece ser tratado como um rei. Alguns meses de portas fechadas devem ter ensinado algo. Já deveria ser assim, mas não era, e sabemos disso.

Todos tivemos experiências nesse sentido. Entrar em uma loja e não dizer imediatamente "eu quero comprar" é pedir para ser ignorado. Friamente. Duramente. Preconceituosamente.

Podemos identificar pequenos negócios dentro do negócio. Ou outro negócio dentro do negócio. Uma empresa que aluga carros antigos para casamento pode se tornar uma empresa que aluga carros antigos para passeios pelas regiões de colonização perto de Santa Maria, por exemplo. Não seria um experiência incrível? Padarias, delicatessens, lojas de cestas podem oferecer kits de piquenique.

Cabeleireiros podem recuperar o tempo não faturado com serviços agendados aos domingos. Setores de turismo já apontam que o período pós-pandemia trará uma busca pelo escapismo, pela desconexão. Abre-se uma oportunidade de novos negócios. Nossa região é linda.

Chegou a hora de enxergarmos idosos como um segmento a ser melhor atendido. Muito melhor atendido. Mais do que nunca, uma marca, grande ou pequena, tem que mostrar qual sua "persona". Faça o exercício: se minha empresa fosse uma pessoa, ela seria... Educada? Solidária? Preconceituosa? Uma ótima anfitriã? Carinhosa? Indiferente? Fria? Impessoal? Antiga?

Outro aspecto que necessita análise sensível é o papel do ponto físico. A pessoa que está voltando às ruas quer encontrar não apenas uma porta aberta, mas um lugar em que se sinta, em primeiro lugar, cuidada. E não apenas pelas normas de higiene e sanitização que chegaram para ficar. O que estava posto, mas ainda relevado a um plano inferior, agora é tema de casa.

Lojas, todas, em qualquer segmento, precisam ser um espaço de socialização. Que atratividade tem o estabelecimento? Tem certeza que é atrativo? Por quê? Liste agora. Já! Quando eu sair para a rua o que vou encontrar aí que justifique eu não querer voltar para casa correndo?

Técnicas de venda agora serão mais definidas como as habilidades em agradar e demonstrar carinho. Sem ser chato, claro.

Recepção. Atratividade. Revise seus conceitos sobre estes atributos. Que não têm nada a ver, neste caso, com projetos arquitetônicos maravilhosos. Que são extremamente valiosos, mas não é este o ponto aqui.

Conhecer melhor o cliente. Ter a informação e usá-la como fonte. Quem neste período de isolamento tinha os canais de comunicação direta com seus clientes? Não falo em redes sociais, falo em informação pessoal. Para ligar para aquele profissional ou para aquele idoso que almoça todos os dias em seu estabelecimento e oferecer o envio de uma marmita, por exemplo.

Conexão com o indivíduo. Adote como um mantra, como uma oração. Compartilhe, compartilhe, compartilhe... com sua equipe. É tempo de conseguir ser transformacional. Sem ser disruptivo. Momento de testar comunicação, canais e conteúdo. Se você acha que marcar presença digital é panfletar nas redes sociais, sinto muito dizer que não é.

E agora, eu vou te dar um susto. Um bom exercício a ser colocado em prática para tentar sair com saúde desse período de mudança é transformar seu estabelecimento num lugar de luxo. Porque se você não sabe, luxo é exclusividade, diferenciação, experiência única, mas, sobretudo, é atenção aos detalhes, obsessão na entrega e um atendimento impecável. Achou difícil? Tem uma moça lá na Quarta Colônia que criou o Bolo no Portão e fez de uma simples venda de produto caseiro uma experiência deliciosa.

Melhorar é bom. Melhorar-se é felicidade. Tente começar sozinho. Mas vai ser melhor se você buscar ajuda, buscar diálogo com quem pode contribuir antes de ficar achando que a realidade está dura demais com você.

Então, vamos olhar o futuro a partir das coisas que estão acontecendo agora. A bola de cristal estagiária separa os cuidadosos que se mostram dispostos à adaptação dos que estão esperando voltar ao que não vai voltar. No meio de tudo, tem boas notícias, pois uma coisa é certa: ninguém entrou nisso sozinho, ninguém vai sair disso sozinho.

"Feliz daquele que entende que é preciso mudar tudo para continuar sendo o mesmo" (D. Helder Câmara).


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